BioAssay 4:2 (2009) | ISSN: 1809-8460 | ||
EXTRATOS VEGETAIS |
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EDSON L. L. BALDIN1, JOÃO PAULO M. PRADO2, RAFAEL S. CHRISTOVAM1 E MÁRIO H. F. A. DAL POGETTO1 1Depto.
de Produção Vegetal – Defesa
Fitossanitária, FCA/UNESP, Rua José Barbosa de
Barros, 1780 – Fazenda Lageado, 18603-970, Botucatu, SP,
Brasil. E-mail: mhfadpogetto@fca.unesp.br Enviado em: 09/VI/2008; Aceito em: 30/XI/2008; Publicado em: 22/VI/2009 Use of
Vegetable Powders in the Control of Acanthoscelides obtectus
Say ABSTRACT
- The
effects of eleven vegetable powders applied in bean grains were
evaluated on the
biology of Acanthoscelides obtectus Say. The amount of 0.3g of powders
mixed to 10g of
grains of bean genotype IAC – Carioca was placed into plastic
boxes with four couples
of bean weevils during a 7-day period. Twenty five days after
infestation, we
started recording the oviposition and the number of emerged adults in
each treatment.
At the end of the adult emergence period, the dry weight of adults, the
weight
of consumed grains and period of development (egg-adult) were
evaluated. The
powders of Baccharis trimera Less.,
Mentha pulegium L. and Coriandrum sativum L. reduced the
oviposition
of A. obtectus,
but do not affect the development of bean weevil larvae.
The highest
oviposition was obtained with bean grains mixed to powders of Leonurus sibiricus L.. The lowest weight
of A. obtectus adults was obtained
from
bean grains treated with Azadirachta
indica A. Juss. possibly due to the occurrence of feeding
deterrence to A. obtectus larvae. KEYWORDS
- bean weevil, Phaseolus
vulgaris, insecticidal plants
PALAVRAS-CHAVE – caruncho, Phaseolus vulgaris, plantas inseticidas O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de grãos de feijoeiro Phaseolus vulgaris L., e como tal sofre muitas perdas durante o armazenamento. Uma das causas deste prejuízo dentro dos armazéns está relacionada ao ataque de bruquídeos, como o caruncho Acanthoscelides obtectus Say, 1831 (Coleoptera: Bruchidae), apontado como uma das principais pragas de grãos de feijoeiro em climas temperado e tropical. Esse inseto possui grande capacidade reprodutiva, podendo formar numerosas populações em curtos períodos de tempo. Ao atacarem os grãos, as larvas podem destruir o embrião afetando diretamente a germinação, além de provocar desvalorização comercial, perdas de peso e redução no valor nutricional grãos (Gallo et al., 2002). O uso de inseticidas no controle das pragas de grãos armazenados serve para complementar algumas medidas preventivas de controle, tais como o manejo da temperatura e umidade, o uso de instalações adequadas, entre outros. As principais desvantagens decorrentes do emprego de inseticidas ocorrem devido à impossibilidade de se fazer o tratamento próximo ao período do consumo, devido a possíveis resíduos deixados nos grãos (Rego et al., 1986). Dentre os inseticidas curativos mais usados para o controle dos carunchos destaca-se o fumigante fosfina e para o controle preventivo utilizam-se deltametrina, permetrina, fenitrotion, malation, pirimifós metil e bifentrina (Lorini, 1998). Em
decorrência do risco de
resíduos químicos serem encontrados nos
grãos surge a necessidade de buscar
alternativas de controle menos prejudiciais à
saúde humana e ao meio ambiente. Assim,
métodos de controle alternativo vêm sendo
pesquisados, destacando-se entre eles
o uso de inseticidas botânicos (Arruda
& Batista,
1998, Mazzonetto
&
Vendramim, 2003). Muitas espécies vegetais
são
ricas em compostos secundários,
destacando-se aqueles presentes em óleos essenciais, como os
monoterpenos e seus
análogos. Estes compostos são tipicamente
lipofílicos, tendo alto potencial
tóxico em processos bioquímicos
básicos, com conseqüências
fisiológicas e
comportamentais para insetos (Prates
& Santos, 2002). Os
compostos
monoterpenóides têm sido avaliados no controle de
várias espécies de
insetos-praga de grãos armazenados, apresentando
ações de contato, ingestão,
ovicida, fumigante e repelente, além de afetarem a biologia
e a fisiologia dos
insetos (Lee et
al., 2004). Pequenos produtores também têm utilizado várias práticas, como a mistura de grãos de feijão com areia, cal, cinza de madeira, resíduos de trilha da colheita (munha), terra de formigueiro, pimenta-do-reino ou óleos (Gutierrez & Schoonhoven, 1981; Don-Pedro, 1989). Barreto et al. (1983) observaram que houve interferência na biologia e redução da população de A. obtectus quando grãos de caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp) foram misturados com calcário. De acordo com Mordue & Nisbet (2000), o óleo de sementes de Azadirachta indica A. Juss. contém azadiractina e outros compostos potencialmente bioativos, sendo eficientes no controle de pragas de grãos armazenados. Nesse sentido, plantas com atividade inseticida podem ser utilizadas como pós secos, extratos aquosos ou orgânicos e óleos, constituindo uma alternativa aos inseticidas químicos sintéticos, principalmente pela sua eficiência, facilidade de aplicação e obtenção, rápida degradação e baixa toxicidade para os aplicadores (Faroni et al., 1995, Talukder & Howse, 1995, Oliveira & Vendramim, 1999, Sousa et al., 2005), adequando-se aos anseios da sociedade moderna na busca de alimentos saudáveis, bem como aos programas de manejo integrado de pragas. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar as possíveis alterações na biologia de A. obtectus ocasionadas pela aplicação de pós vegetais em grãos de feijão, sob condições de laboratório.Material e Métodos
O trabalho foi conduzido no Laboratório de Entomologia da FCA/UNICASTELO, Campus de Fernandópolis/SP, durante o ano de 2006. Para a realização dos ensaios foi mantida uma criação estoque de A. obtectus no interior de uma câmara climática tipo B.O.D. (T = A partir da emergência dos insetos provenientes da criação, foram preparados onze tratamentos a partir das seguintes espécies vegetais: Leonurus sibiricus L. (folha + ramo), Mentha pulegium L. (folha + ramo), Artemisia camphorata Vill. (folha + ramo), Ruta graveolens L. (folha + ramo), Arnica montana L. (folha + ramo), Foeniculum vulgare Mill. (folha + ramo), Chenopodium ambrosioides L. (folha + ramo + inflorescência), Azadirachta indica A. Juss. (folha), Artemisia chacunculus L. (folha + ramo), Coriandrum sativum L. (folha + ramo) e Baccharis trimera Less. (folha+ramo). Estes materiais foram coletados durante o mês de abril, sempre pela manhã, no Setor de Plantas Medicinais da FCA/UNICASTELO de Fernandópolis, SP. Após
as coletas de campo, as
estruturas vegetais foram secas em estufa a Cada parcela foi constituída por 10g de feijão, misturados a 0,3g dos respectivos pós em recipientes plásticos (4,0 x 5,0 cm). Efetuaram-se oito repetições em delineamento inteiramente casualizado. As parcelas foram infestadas com quatro casais de A. obtectus (48h de idade) por um período de sete dias. Antes de serem utilizados nos ensaios, os grãos de feijão foram acondicionados em câmara climática (mesmas condições já descritas) por três dias para que entrassem em equilíbrio higroscópico. Passados 25 dias da infestação, foi contabilizado o número total de ovos por recipiente e também calculado o índice de preferência para oviposição (Baldin et al., 2000), utilizando-se a fórmula IPO = [(T-P/T+P)] x 100, onde T representa o número de ovos contados no tratamento avaliado e P representa o número de ovos contados no tratamento padrão (testemunha, sem pó). O índice varia de ±100 para altamente estimulante, zero para neutro, até –100 para altamente deterrente. A classificação dos tratamentos foi feita a partir da comparação das médias de ovos dos tratamentos com a média do tratamento padrão, levando-se em consideração o erro padrão da média do ensaio para a diferenciação dos mesmos. Após a contagem dos ovos, as parcelas foram avaliadas diariamente, visando determinar-se o número de adultos emergidos, o peso seco dos insetos, o peso (seco) de grãos consumidos e o período de desenvolvimento (ovo – adulto) de A. obtectus. Os
carunchos recém-emergidos foram acondicionados
em frascos de vidro (2,2 x O consumo dos grãos de feijão pelas larvas de A. obtectus foi determinado comparando-se o peso dos grãos das parcelas infestadas com o peso das parcelas testemunhas não infestadas e descartando-se as perdas médias de umidade. Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo Teste F, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey (p≤0,05), utilizando-se o programa estatístico ESTAT 2.0 (UNESP de Jaboticabal, SP). Resultados e Discussão Os grãos contendo os pós B. trimera, M. pulegium e C. sativum foram os menos ovipositados por A. obtectus, diferindo significativamente de L. sibiricus que apresentou a maior média de ovo, considerando-se tanto o número total de ovos como o número de ovos/grão e o número de ovos/fêmea (Tabela 1). Esses resultados são semelhantes aos obtidos por Mazzonetto & Vendramim (2003), que constataram baixa oviposição de A. obtectus em grãos de feijão tratados com pó de C. sativum. Os tratamentos F. vulgare, R. graveolens, A. montana, A. camphorata, A. chacunculus e A. indica apresentaram médias intermediárias, não diferiram da testemunha e nem afetaram significativamente a oviposição deste inseto. No geral, observou-se que o tratamento C. sativum destacou-se como de maior deterrência, enquanto que L. sibiricus foi o mais estimulante para a oviposição, comparativamente à testemunha (sem pó). Com exceção de L. sibiricus e C. ambrosioides, que estimularam a oviposição, os demais tratamentos também foram classificados como deterrentes, afetando negativamente o comportamento de oviposição de A. obtectus (Figura 1). De acordo com Lara (1991), compostos voláteis de plantas ou pós vegetais, abordados no presente estudo, podem provocar efeitos deterrentes à alimentação e à oviposição dos insetos, alterando o comportamento dos mesmos na exploração do hospedeiro. O pó de C. ambrosioides foi classificado como neutro à oviposição (Figura 1) e apresentou o maior número de insetos emergidos por tratamento (Tabela 2), indicando pouca atividade inseticida sobre A. obtectus. Esses resultados contrastam com aqueles obtidos por Silva et al. (2003), que obtiveram 100% de mortalidade de Sitophilus zeamais (Mots.) (Coleoptera: Curculionidae) utilizando uma concentração de 1% (p/p) de pó dessa planta. Também Delobel & Malonga (1987), empregando uma concentração de 2,5% (p/p) obtiveram 90% de mortalidade de Caryedon serratus Oliv. (Coleoptera: Bruchidae). Em grãos de feijoeiro, Mazzoneto & Vendramim (2003) e Procópio et al. (2003) obtiveram 100% de mortalidade de Zabrotes subfasciatus (Boh.) (Coleoptera: Bruchidae) e A. obtectus, com o mesmo vegetal. Entretanto, cabe ressaltar que no presente estudo, testes específicos de mortalidade envolvendo C. ambrosioides não foram efetuados, devendo ser alvo de futuros ensaios, a fim de melhor esclarecer seu comportamento sobre A. obtectus. Os pós vegetais misturados aos grãos de feijoeiro provavelmente afetaram a viabilidade dos ovos ou a fase larval de A. obtectus, uma vez que a diferença estatística observada entre os materiais quanto à oviposição (Tabela 1) não se manteve na avaliação de emergências (Tabela 2), como nos tratamentos B. trimera, M. pulegium e C. sativum, que foram menos ovipositados comparativamente ao L. sibiricus. O tratamento A. montana (31,42) apresentou o menor período médio de desenvolvimento (em dias) diferindo significativamente de F. vulgare (28,1), M. pulegium (29,4), B. trimera (29,5), L. sibiricus (29,6) e A. indica (29,7) que se destacaram pelo maior prolongamento do ciclo de A. obtectus (Figura 2). Entretanto, apesar do significativo retardo no período de desenvolvimento de A. obtectus provocado por A. montana, o ganho de peso das larvas foi semelhante ao da testemunha (Tabela 2), questionando a hipótese de deterrência na alimentação.
Os
tratamentos F. vulgare e A. indica, com médias de peso
dos insetos de 2,2 mg e 1,9 mg,
respectivamente, diferiram estatisticamente dos tratamentos M. pulegium e B.
trimera que foram bastante favoráveis ao
desenvolvimento de A. obtectus,
revelando médias de peso mais
elevadas, com 2,7 e 2,6 mg, respectivamente. Portanto, os tratamentos
que
apresentaram os menores valores de peso de adultos emergidos sugerem a
presença
de compostos indesejáveis ao desenvolvimento das larvas.
Não foram observadas
diferenças significativas no consumo dos grãos
que variou de Os resultados obtidos nesse trabalho mostraram que os pós de B. trimera, M. pulegium e C. sativum misturados aos grãos de feijoeiro reduzem significativamente a oviposição de A. obtectus durante o período de armazenamento. A redução da oviposição é um fator importante durante o armazenamento dos grãos, pois tende a eliminar a infestação do inseto gradativamente. Por tratar-se de plantas de fácil cultivo e obtenção, essas três espécies apresentam-se como alternativas viáveis no controle desse caruncho, principalmente para pequenos produtores. O
baixo peso dos insetos adultos em grãos de feijão
tratados
com o pó de A. indica sugere algum
efeito prejudicial de substâncias
secundárias sobre as larvas do inseto. Entretanto, os
resultados obtidos em
relação a outros parâmetros
biológicos, como o número de adultos emergidos,
período de desenvolvimento e peso de grãos
não confirmaram tal efeito, exigindo
investigações futuras.
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